FRASE DA SEMANA

"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

OPINIÃO




Maré Alta

O preço dos ídolos    

No programa Cidade Alerta da TV Record assistimos parte de uma reportagem apresentada pelo titular do programa Marcelo Resende, focando (chatonildamente*) diversos ângulos de uma entrevista com o ex-goleiro do Flamengo, Bruno, na prisão, condenado que fora a 22 anos e 3 meses, por seu envolvimento no assassinato de Eliza Samudio. É de se lamentar que o sensacionalismo exigido pela busca de um bom IBOPE, transforme o conteúdo rico a ser explorado sob diversos ângulos, numa apresentação que beira ao ridículo de um bate estaca, isto é: por mais que se bata na estaca ela não afunda – permanece do mesmo modo em que estava antes da tão propalada entrevista. 
Não temos a pretensão de discutir a condenação do Bruno ou tão pouco inculpá-lo dos acontecimentos, muito embora nós sempre achássemos que jamais Bruno teve a intenção de mandar matar a periguete Eliza. Choca essa nossa ousadia de classificação da vítima? Por quê? Só porque foi assassinada, virou santa?

Até hoje não vimos qualquer abordagem feita pelos “experts” da nossa mídia de mundo cão, onde tais especialistas considerassem Bruno como mais uma das grandes vítimas do que se costuma dominar “golpe da barriga”. Na novela “Amor à vida” existe uma personagem que encarna perfeitamente esse tipo de mulher vulgar, com o incentivo da sua progenitora, exigindo da filha a todo o instante, inteligência para arrumar um homem que resolva seu futuro, sem quaisquer sacrifícios de luta pelo pão nosso de cada dia... Sem fazer força, além do exigido na cama a dois.

Temos inúmeros exemplos. Existem muitos agrupamentos de periguetes tentando se sair bem à custa de nomes famosos, que conscientes ou inconscientes (inconsequentes também), servem ora como escada de ascensão profissional pretendida por tais dondocas ou simplesmente para buscarem substancial proveito de uma afortunada gravidez, nesses programados embalos de segundas à noite. Os grandes alimentadores dessas - na maioria das vezes - dirigidas programações, costumam ser atletas profissionais ou artistas.  Sintonize algumas breves fazes da vida de Pelé. Dirija uma pesquisa específica para tal tarefa, na vida de Airton Senna, Ronaldo Fenômeno, Mick Jagger (Rolling Stones) x Gimenez e tantos outros.
Bruno foi mais uma vítima, dessa cultura promíscua que a hipocrisia da nossa podre sociedade tenta desconhecer. E quando se sentiu envolvido, cônscio de suas responsabilidades como profissional do esporte das multidões, que exigia dele total concentração, simplesmente, encarregou um seu amigo de confiança, de dar uma solução para o problema que o estava perturbando. Temos uma convicção firmada a respeito: aquele atleta do Flamengo, com uma carreira de incontestável sucesso, jamais imaginou que a solução do amigo de confiança fosse daquele modo, com aquele desfecho (tirando a vida de um ser humano). Destruiu sua preciosa carreira. Destruiu sua vida. Pagou muito caro por isso.
Mas se pensam que os embalos das segundas à noite deixaram de existir, estão enganados. É só esperar que logo apareçam envolventes fofocas a enredar novos ídolos. O número de jovens e mães facilitadoras, tentando se sair bem na vida, aumenta a cada dia. E não deixa de ser sintomático - nunca criticado - a nossa televisão fomentando e popularizando dezenas de tipos negativos de comportamento, através do mais consumido alimento cotidiano: A Novela.
*Palavra ora criada, derivada de chato.
Por: Arico Siarra (sabidamente o codinome de Aristides Arrais)

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