Maré Alta
O preço dos ídolos
No programa Cidade Alerta da TV
Record assistimos parte de uma reportagem apresentada pelo titular do programa
Marcelo Resende, focando (chatonildamente*) diversos ângulos de uma entrevista
com o ex-goleiro do Flamengo, Bruno, na prisão, condenado que fora a 22 anos e
3 meses, por seu envolvimento no assassinato de Eliza
Samudio. É de se lamentar que o sensacionalismo
exigido pela busca de um bom IBOPE, transforme o conteúdo rico a ser explorado sob
diversos ângulos, numa apresentação que beira ao ridículo de um bate estaca,
isto é: por mais que se bata na estaca ela não afunda – permanece do mesmo modo
em que estava antes da tão propalada entrevista.
Não temos a pretensão de discutir a condenação do
Bruno ou tão pouco inculpá-lo dos acontecimentos, muito embora nós sempre
achássemos que jamais Bruno teve a intenção de mandar matar a periguete Eliza.
Choca essa nossa ousadia de classificação da vítima? Por quê? Só porque foi
assassinada, virou santa?
Até
hoje não vimos qualquer abordagem feita pelos “experts” da nossa mídia de mundo
cão, onde tais especialistas considerassem Bruno como mais uma das grandes
vítimas do que se costuma dominar “golpe da barriga”. Na novela “Amor à vida”
existe uma personagem que encarna perfeitamente esse tipo de mulher vulgar, com
o incentivo da sua progenitora, exigindo da filha a todo o instante,
inteligência para arrumar um homem que resolva seu futuro, sem quaisquer
sacrifícios de luta pelo pão nosso de cada dia... Sem fazer força, além do
exigido na cama a dois.
Temos inúmeros exemplos. Existem muitos agrupamentos
de periguetes tentando se sair bem à custa de nomes famosos, que conscientes ou
inconscientes (inconsequentes também), servem ora como escada de ascensão
profissional pretendida por tais dondocas ou simplesmente para buscarem
substancial proveito de uma afortunada gravidez, nesses programados embalos de
segundas à noite. Os grandes alimentadores dessas - na maioria das vezes -
dirigidas programações, costumam ser atletas profissionais ou artistas.
Sintonize algumas breves fazes da vida de Pelé. Dirija uma pesquisa específica
para tal tarefa, na vida de Airton Senna, Ronaldo Fenômeno, Mick Jagger
(Rolling Stones) x Gimenez e tantos outros.
Bruno foi mais
uma vítima, dessa cultura promíscua que a hipocrisia da nossa podre sociedade
tenta desconhecer. E quando se sentiu envolvido, cônscio de suas
responsabilidades como profissional do esporte das multidões, que exigia dele
total concentração, simplesmente, encarregou um seu amigo de confiança, de dar
uma solução para o problema que o estava perturbando. Temos uma convicção
firmada a respeito: aquele atleta do Flamengo, com uma carreira de
incontestável sucesso, jamais imaginou que a solução do amigo de confiança
fosse daquele modo, com aquele desfecho (tirando a vida de um ser humano).
Destruiu sua preciosa carreira. Destruiu sua vida. Pagou muito caro por
isso.
Mas se
pensam que os embalos das segundas à noite deixaram de existir, estão
enganados. É só esperar que logo apareçam envolventes fofocas a enredar novos
ídolos. O número de jovens e mães facilitadoras, tentando se sair bem na vida,
aumenta a cada dia. E não deixa de ser sintomático - nunca criticado - a nossa
televisão fomentando e popularizando dezenas de tipos negativos de
comportamento, através do mais consumido alimento cotidiano: A Novela.
*Palavra ora criada, derivada de chato.
Por: Arico Siarra (sabidamente
o codinome de Aristides Arrais)
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