FRASE DA SEMANA

"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

(Fernando Pessoa)

domingo, 11 de agosto de 2013

DEVANEIOS



Desabafo de pai 

Mais um dia dos pais. Hoje um dia dos pais diferente, pois vendo a homenagem que fizeram a um apresentador de TV, fiquei emocionado e comecei a fazer uma reflexão sobre minha vida. Vida de filho único e de pai de cinco filhos dos quais só conheço e convivo com quatro.
Muitos dos que me conhecem devem ficar surpresos com a afirmativa que tenho cinco filhos, ou tive cinco filhos. Posso até dizer que para mim é estranho perceber que disse isto.  Hoje, no entanto, relembrei um fato e tocado pela emoção do dia, que sei bastante comercial e pouco sentimental, resolvi deixa-lo público.
Há muito tempo, mais precisamente há quarenta e sete anos atrás, fruto de um romance de adolescente, veio ao mundo uma filha. Filha que não conheci e até hoje não tenho sequer de longe a menor noção de sua existência. Sua mãe, por motivos que não encontro justificativo, resolveu fugir de Maceió e rumar para o Brasil central onde complementou a gestação e deu a luz à criança. Apenas, depois do fato consumado fui comunicado, tendo como consolo a notícia que teria alguém que a registrara e a cuidara como filha. Daí por diante o silêncio absoluto.
O mais estranho é que depois de tanto tempo o fato reviveu em mim, possivelmente pelo sentimento de ser pai, que neste caso deixei de ser. E quanto aos demais? Hoje, com os demais quatro filhos que permeiam a minha vida, mantenho uma convivência, considerada razoável, afetiva e amistosa.
A triste realidade, porém é o registro de que apenas o mais novo que tem apenas dez anos de idade, no dia de hoje, o tal dia dedicado aos pais, esteve comigo e me demonstrou algum sentimento pela passagem da data. Normalmente esta ausência em mim passaria despercebida, caso não tivesse assistido o programa da TV que aflorou em mim um sentimento incomum e normalmente não tão intenso, até latente diria. Este dia, como tantos outros, não passam de corriqueiros, comuns, apenas com forte apelo da mídia.
É possível que não tenha sido o pai que meus filhos gostariam que eu fosse. Nunca fui o pai presente, meloso, participativo, mas tenho a convicção que sempre senti amor por todos. Um amor a minha maneira de demonstrar, sem grandes ostentações. A aparente frieza que me é peculiar, por não ter muito jeito de demonstrar os meus sentimentos, afeta mais a mim próprio que possivelmente aos que me rodeiam. E, nessa oportunidade em que me propus abrir meu coração e revelar fatos recônditos como se fora um dos mais guardados segredos, digo a todos os meus filhos – eu os amo muito.

Paulo Placido

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