A Proclamação da República
Brasil x Portugal
Dia 15 de novembro próximo, o Brasil estará comemorando mais um ano de sua sempre presente Proclamação da República.
A partir de uma auspiciosa expectativa, propusemo-nos um trabalho sobre tão importante momento da história desta nossa pátria adotiva, ligada por um elo indissolúvel de irmanação àquele nosso outro país chamado Portugal. O objetivo é o de buscar e apresentar algo em que possamos demonstrar alguma específica identificação una, nas suas respectivas proclamações, não só pela existência de uma língua pátria, como também pela história da história comum a estes países irmãos e, deste modo, percorrermos os múltiplos caminhos que levaram às suas Proclamações da República, consideradas as duas décadas transcorridas entre elas (Brasil: 15.11.1889 – Portugal: 05.10.2010)
Começamos por ressaltar as determinantes raízes prenunciadas pela própria natureza de seus respectivos ideais: De um lado a difusão e a forma apaixonante com que foram absorvidas as novas idéias do positivismo, desenvolvidas e largamente expostas pelo filósofo francês Augusto Comte, a partir da Revolução Francesa e que logo se espalharam por todo o mundo conhecido e tido como civilizado. A base de toda a obra de Comte é fenomenalmente abrangente e profunda, mas basicamente assentada no simples entendimento de que “é a evolução da inteligência humana que comanda o desenrolar da história”.
Tanto no Brasil quanto em Portugal, a seu devido tempo, a repercussão desta nova visão logo ganhou o entusiasmo e a adesão das principais personagens da elite intelectual, mas foi em Portugal que a força dessa intelectualidade se tornou fundamental para a consumação do movimento que levou à Proclamação da República.
Afora a língua mater, alguns fatores comuns às duas nações ressaltam como preponderantes a instigar o movimento: Logo de inicio dois fatores se evidenciam no Brasil e no Portugal: A monarquia existente, una aos dois países; E a absorção das idéias do positivismo trazidas principalmente pela intelectualidade que emergia encantada pela explosão do pensamento expresso de Conte. Mas, não temos dúvida em afirmar que a gestação e o parto da Proclamação da República no Brasil foram bem mais fáceis do que a evolução do movimento em Portugal.
No Brasil houve toda uma seqüência de passos/acontecimentos que se ligaram num crescente efeito natural até atingir seu ápice não premeditado, mas conclusivo. Vejamos: A vinda da Família Real para o Brasil, as conseqüências positivas de sua presença e o regresso da Família Real à pátria mãe; A Proclamação da Independência; A abolição da escravatura; D. Pedro II do Brasil tornado Imperador; Proclamação da República.
Há que notar que no Brasil, os intelectuais portadores das novas idéias não tiveram a mesma participação ativa na proclamação da República do Brasil, como teve a intelectualidade portuguesa. Os intelectos brasileiros então impregnados das conseqüências da Revolução Francesa estiveram muito mais presentes na proclamação da independência, muito embora, na sua seqüência, os dois acontecimentos se identifiquem pelas suas próprias origens precursoras. O planejamento da Proclamação da República do Brasil restringiu-se, basicamente, a um grupo de militares, enquanto em Portugal, um contingente enorme de cabeças pensantes enriquecidas de todo o conhecimento do positivismo de Conte e sofridas com toda uma seqüência de acontecimentos, foram urdindo passo a passo o grande porvir do fim de uma era de quase um milênio de monarquia
Ainda com relação a Portugal, uma observação mais atenta nos remete a acontecimentos bem mais intensos de objetivos, a partir da revolução francesa com o envolvimento do povo português surgindo daí, uma nova era de vertiginosas transformações assentadas nas idéias de Conte a chegar a todos os confins do mundo civilizado, tendo como lógica primeira, o banimento de todas as monarquias, principalmente as absolutistas.
Assim como no Brasil, também em Portugal há um seqüencia de acontecimentos antecedentes, estes mais globais, a influir na proclamação: Efeitos da Revolução Francesa; Queda da monarquia na França e a assunção de Napoleão Bonaparte; O confronto da França de Napoleão com a Inglaterra e a Decretação do Bloqueio Continental; A retirada da Família Real Portuguesa para o Brasil: A invasão de Portugal pelas tropas francesas; A situação vexatória de um povo nação, dominado e governado fugazmente pelos franceses e depois pelos ingleses; A reação de um Portugal subjugado e extorquido; O retorno da Família Real; A restauração da Monarquia; O efeito dinamite dos conceitos de Conte na intelectualidade portuguesa bem politizada, rejuvenescedora de idéias e sequiosa de transformações; O ultimato britânico (Grã-Bretanha: A “altruísta” usurpadora de parte das grandes conquistas portuguesas de além mar) se opondo ao mapa cor de rosa; As lutas internas e o desfecho: A Proclamação da República. É de se registrar que, de algum modo, a proclamação da república no Brasil, teve a sua influência principalmente no desfecho da proclamação portuguesa
Não poderíamos concluir este texto sem uma referência à Maçonaria – uma sociedade secreta – e sua presença de marcante influência no fazer acontecer, nestes máximos eventos da história dos dois países. Seus figurantes personagens são uma epopéia intrigante de rara grandeza que ainda está por ser detalhadamente contada.
Aristides Arrais
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