FRASE DA SEMANA

"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

OPINIÃO


O Fim do Bolsa Família

Relembrando o tumulto que foi causado pelo boato sobre o fim do Bolsa Família, quando presenciei nas lotéricas quilométricas filas, um detalhe me despertou atenção: a sensível variedade de seus componentes. Em meio a pessoas simples, algumas até maltrapilhas, verifiquei um número considerável de beneficiários do programa, alegres, bem vestidos, divergindo do que poder-se-ia definir como padrão naquela situação já demonstrando a possível desigualdade na escolha de seus participantes. É aí que fico a me perguntar: e se fosse real a extinção do Bolsa Família, o que seria da população formada pelos dependentes da esmola que o governo oferta? Não me refiro aos bem-apessoados, mas àquela parcela composta por pessoas aparentemente carentes. Seria o colapso dessa leva de viciados às migalhas que se acostumaram a receber mensalmente?
Creio que muitos iriam a priori passar fome. Afinal esses beneficiários foram desacostumados de ir à luta pelo auto sustento e hoje não sabem trabalhar, estudar ou tentar se adaptar aos novos rumos da vida profissionalizante. O peixe que lhes foi oferecido a princípio, com a promessa de lhes ser ensinado a pesca, não se concretizou. O governo os deixou propositadamente na dependência de migalhas, os tornando inúteis e incapazes como forma de mantê-los sob rédeas curtas.
Não houve uma política de capacitação que propiciasse sua restruturação social para o restabelecimento das condições de trabalho. Ou seja, não parece ter sido a vontade do Estado querer ajudar, e sim escravizar e obrigar os milhares de brasileiros a ter como elemento de retribuição a este assistencialismo o que parece ter valor para seus dirigentes: o voto. 
Como emergencial, o Bolsa Família teve grande importância, pois proporcionou, a grande parte das pequenas cidades com uma economia estagnada, o aquecimento relativo do comércio e dos serviços. Cidades passaram a movimentar uma boa fatia de recursos e passaram também a depender dos aparentes favores de seus governantes, mas a auto sustentabilidade e a inclusão socioeconômica inexistem.
As famílias que dessa esmola dependem nunca tiveram incentivos ou qualquer chance de produzir para se manterem com dignidade. E para que possam ter dignidade precisam aprender a andar com as próprias pernas e ter responsabilidades. Os programas profissionalizantes existem, mas os investimentos que lhes são destinados são insignificantes ante a fábula de recursos dedicada ao caridoso programa.
O Bolsa-Família me parece, não passar de uma inteligente manobra de nossos dirigentes para se perpetuarem no poder a um custo relativamente baixo e oficial. Até quando?

Paulo Placido

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