O Fim
do Bolsa Família
Relembrando o tumulto que foi causado pelo boato
sobre o fim do Bolsa Família, quando presenciei nas lotéricas quilométricas
filas, um detalhe me despertou atenção: a sensível variedade de seus componentes.
Em meio a pessoas simples, algumas até maltrapilhas, verifiquei um número
considerável de beneficiários do programa, alegres, bem vestidos, divergindo do
que poder-se-ia definir como padrão naquela situação já demonstrando a possível
desigualdade na escolha de seus participantes. É aí que fico a me perguntar: e
se fosse real a extinção do Bolsa Família, o que seria da população formada
pelos dependentes da esmola que o governo oferta? Não me refiro aos bem-apessoados,
mas àquela parcela composta por pessoas aparentemente carentes. Seria o colapso
dessa leva de viciados às migalhas que se acostumaram a receber mensalmente?
Creio que muitos iriam a priori passar fome. Afinal
esses beneficiários foram desacostumados de ir à luta pelo auto sustento e hoje
não sabem trabalhar, estudar ou tentar se adaptar aos novos rumos da vida
profissionalizante. O peixe que lhes foi oferecido a princípio, com a promessa
de lhes ser ensinado a pesca, não se concretizou. O governo os deixou propositadamente
na dependência de migalhas, os tornando inúteis e incapazes como forma de
mantê-los sob rédeas curtas.
Não houve uma política de capacitação que propiciasse
sua restruturação social para o restabelecimento das condições de trabalho. Ou seja,
não parece ter sido a vontade do Estado querer ajudar, e sim escravizar e
obrigar os milhares de brasileiros a ter como elemento de retribuição a este
assistencialismo o que parece ter valor para seus dirigentes: o voto.
Como emergencial, o Bolsa Família teve grande importância,
pois proporcionou, a grande parte das pequenas cidades com uma economia
estagnada, o aquecimento relativo do comércio e dos serviços. Cidades passaram
a movimentar uma boa fatia de recursos e passaram também a depender dos aparentes
favores de seus governantes, mas a auto sustentabilidade e a inclusão
socioeconômica inexistem.
As famílias que dessa esmola dependem nunca tiveram
incentivos ou qualquer chance de produzir para se manterem com dignidade. E
para que possam ter dignidade precisam aprender a andar com as próprias pernas
e ter responsabilidades. Os programas profissionalizantes existem, mas os
investimentos que lhes são destinados são insignificantes ante a fábula de
recursos dedicada ao caridoso programa.
O Bolsa-Família me parece, não passar de uma
inteligente manobra de nossos dirigentes para se perpetuarem no poder a um
custo relativamente baixo e oficial. Até quando?
Paulo Placido
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