Desinformação
Em época onde as
virtudes são criticadas e os desvios éticos enaltecidos, os padrões de conduta
honrada praticamente sucumbem em um mar enlameado. Com a generalização de
comportamentos isentos de caráter íntegro, os fracos ou desinformados se deixam
levar pelo caminho fácil da inconsistência moral e passam a ter dúvidas do que seja
errado ou certo. Se deixando levar pelos ganhos fáceis obtidos pelos desonestos
e incentivados pela certeza da impunidade, os iniciantes engrossam as fileiras
da corrupção brasileira.
Na vida pública, o
combate a esses desvirtuamentos de conduta, prática ultimamente sempre presente
na grande maioria dos administradores públicos, vem encontrando um forte aliado
- a transparência. Afinal ser transparente, deixar que a população tome ciência
dos atos e decisões no serviço público, é nada mais nada menos que uma
obrigação, uma prática inerente ao setor. Ou este não é público?
Não se enganem,
contudo, que nesse meio não existam inocentes. Há um sentimento inscrito em
cada ser humano do que seja certo e do que é errado. Esquecê-lo significa admitir conscientemente em chafurdar juntamente
com essa horda dos desonestos que se fartam na mesma lama e se vangloriam de
sua desonestidade cinicamente. E para que possam se deleitar com a
tranquilidade que caberia aos justos buscam ofuscar a tão necessária transparência.
Hoje além do uso da
propinada, forma mais arraigada na atualidade e reinante no meio político para
fazer calar os meios de comunicação venais, surge triunfante o segredo de
justiça. Essa famigerada ferramenta jurídica, sem réstia de dúvidas, deixa nas entrelinhas
das estapafúrdias justificações usadas para validá-la, fortes conotações de
esconder a verdade dos fatos para a população, ou seja, para os eleitores.
Mesmo que sejamos
taxados de moralistas (como se ter ou exigir moralidade fosse uma doença
contagiosa), tolos, lerdos ou incapazes de se adequar a esta nova realidade brasileira
desejada pelos cínicos morais, não entendemos o porquê da necessidade da
desinformação, ou o que é pior, submeter informações do que deve ser público a
uma censura prévia do gestor público. Afinal se esses defensores desse
retrocesso assim o querem é por que devem temer que a verdade venha a tona e frustre
suas intenções.
Paulo Placido
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