FRASE DA SEMANA

"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

REFLEXÕES


Corrupção e Mudanças

     Não mais causa espanto no Brasil os escândalos de corrupção, por mais desalentadores que sejam. Fica claro que por toda classe política sempre pode ser encontrado alguém com telhado de vidro. Portanto é praticamente impossível que, mesmo em situação de adversários, algum político acuse seus pares de corrupção. Eles temem danos em seu próprio telhado e desta forma tudo corre como dantes, no mais tranquilo marasmo. O fato de não se levar às altas esferas da punição os envolvidos em atos de corrupção reflete o apodrecimento do nosso sistema político e, por que não judiciário.
     Não se faz necessário reportar aos grandes e assombrosos escândalos nacionais para se perceber a péssima imagem dos políticos brasileiros ante os olhos dos mais esclarecidos. Para o eleitorado mais humilde, e mais alienado politicamente, eles são apenas os que podem usurpar o erário sem que nada lhes atinja. Em suma, a classe política está mais suja que poleiro de galinheiro, e nada acontece que nos dê esperança que este quadro seja mudado. A situação é vergonhosa, mas vergonha na classe parece ser sentimento inexistente. E para completar a sujeira na corporação alia-se a ela a banda podre do judiciário e do empresariado como coadjuvantes de um esquema espúrio.
     Este quadro advém de práticas iniciadas há não muito tempo, onde para obter o voto o candidato não só precisa expor suas ideias, objetivos e divulgar seu nome pela cidade em cartazes e comícios. Hoje o eleitorado exige o pagamento antecipado de seu voto. Pagamento este que, por não oferecer nenhuma garantia de entrega da mercadoria é necessário que o político invista em um número mínimo de três vezes o necessário para ser eleito com a compra desenfreada dos necessários votos. Daí a necessidade do financiamento privado de campanhas eleitorais. E é daí que interesses privados conseguem se fazer representar e ferrar o eleitor pelas danosas consequências da transação. Como todo e qualquer empresário, o financiador que investe milhares de reais, não o faz por filantropia. Ele pretende ter o retorno do investimento. E mesmo com restrições e limites de dinheiro privado em campanhas eleitorais os detentores deste poderio financeiro continuam manipulando o Estado brasileiro com a cobrança de “juros” estratosféricos de seus eleitos fechando o circuito da corrupção eleitoral. Como para esta conta só tem uma fonte, o erário, o fechamento do circuito fica caro para o país e para seu povo, que no final é quem paga a conta.
     Algum avanço no limite dos gastos de campanha já foi conseguido com a redução da propaganda eleitoral e maior fiscalização nas prestações de contas. Entretanto a burla da legislação, o poderio dos “recursos não tributáveis” nas doações, e o uso velado, ou acintoso, da máquina administrativa nas reeleições continuam favorecendo os poderosos corruptos que assolam as agremiações políticas.
     Outras medidas poderiam reduzir drasticamente a corrupção na política, mas como as decisões são da própria classe e é a minoria da minoria da classe política que aceita sequer discutir o assunto fica improvável que haja mudança. A corrupção política é uma prática que se institucionaliza se arraigando a cada dia em nossa sociedade como um câncer, fazendo com que o povo brasileiro perca inclusive a reação ante os escândalos e passe a aceitá-los como natural e inquestionável.
     Mudar só com nova visão política de nosso eleitorado que, mesmo que se intensifiquem as campanhas de conscientização incitadas por cada vez mais raros quixotescos militantes. Mudar só com reeducação de nosso povo que pela fome aceita submisso as imposições dessa classe de calhordas que infelizmente dominam o país.

Paulo Alencar

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