Corrupção e
Mudanças
Não mais causa espanto no Brasil os
escândalos de corrupção, por mais desalentadores que sejam. Fica claro que por
toda classe política sempre pode ser encontrado alguém com telhado de vidro. Portanto
é praticamente impossível que, mesmo em situação de adversários, algum político
acuse seus pares de corrupção. Eles temem danos em seu próprio telhado e desta
forma tudo corre como dantes, no mais tranquilo marasmo. O fato de não se levar
às altas esferas da punição os envolvidos em atos de corrupção reflete o apodrecimento
do nosso sistema político e, por que não judiciário.
Não se faz necessário reportar aos grandes e
assombrosos escândalos nacionais para se perceber a péssima imagem dos políticos
brasileiros ante os olhos dos mais esclarecidos. Para o eleitorado mais humilde,
e mais alienado politicamente, eles são apenas os que podem usurpar o erário
sem que nada lhes atinja. Em suma, a classe política está mais suja que poleiro
de galinheiro, e nada acontece que nos dê esperança que este quadro seja
mudado. A situação é vergonhosa, mas vergonha na classe parece ser sentimento
inexistente. E para completar a sujeira na corporação alia-se a ela a banda
podre do judiciário e do empresariado como coadjuvantes de um esquema espúrio.
Este quadro advém de práticas iniciadas há
não muito tempo, onde para obter o voto o candidato não só precisa expor suas
ideias, objetivos e divulgar seu nome pela cidade em cartazes e comícios. Hoje
o eleitorado exige o pagamento antecipado de seu voto. Pagamento este que, por
não oferecer nenhuma garantia de entrega da mercadoria é necessário que o
político invista em um número mínimo de três vezes o necessário para ser eleito
com a compra desenfreada dos necessários votos. Daí a necessidade do financiamento
privado de campanhas eleitorais. E é daí que interesses privados conseguem se
fazer representar e ferrar o eleitor pelas danosas consequências da transação.
Como todo e qualquer empresário, o financiador que investe milhares de reais,
não o faz por filantropia. Ele pretende ter o retorno do investimento. E mesmo
com restrições e limites de dinheiro privado em campanhas eleitorais os
detentores deste poderio financeiro continuam manipulando o Estado brasileiro
com a cobrança de “juros” estratosféricos de seus eleitos fechando o circuito
da corrupção eleitoral. Como para esta conta só tem uma fonte, o erário, o fechamento
do circuito fica caro para o país e para seu povo, que no final é quem paga a
conta.
Algum avanço no limite dos gastos de
campanha já foi conseguido com a redução da propaganda eleitoral e maior
fiscalização nas prestações de contas. Entretanto a burla da legislação, o
poderio dos “recursos não tributáveis” nas doações, e o uso velado, ou acintoso,
da máquina administrativa nas reeleições continuam favorecendo os poderosos
corruptos que assolam as agremiações políticas.
Outras medidas poderiam reduzir
drasticamente a corrupção na política, mas como as decisões são da própria
classe e é a minoria da minoria da classe política que aceita sequer discutir o
assunto fica improvável que haja mudança. A corrupção política é uma prática
que se institucionaliza se arraigando a cada
dia em nossa sociedade como um câncer, fazendo com que o povo
brasileiro perca inclusive a reação ante os escândalos e passe a aceitá-los
como natural e inquestionável.
Mudar só com nova visão política de nosso
eleitorado que, mesmo que se intensifiquem as campanhas de conscientização
incitadas por cada vez mais raros quixotescos militantes. Mudar só com
reeducação de nosso povo que pela fome aceita submisso as imposições dessa classe
de calhordas que infelizmente dominam o país.
Paulo Alencar
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